Nascente encantada do rio Guaxuma: Onde a terra respira em água

Escondida no coração do município de Coruripe, no Litoral Sul de Alagoas, a nascente do rio Guaxuma é um verdadeiro tesouro natural, um lugar onde a terra respira em águas cristalinas que dançam em bolhas de ar, impedindo quem chega de afundar. Sua beleza não se limita ao azul profundo de suas águas, mas à natureza que a cerca – uma selva exuberante, onde o canto dos pássaros e a presença de vida selvagem nos envolvem e nos fazem sentir parte do lugar.

A nascente tem se tornado um destino promissor para aqueles que buscam viver o ecoturismo de uma forma autêntica, imersa em tranquilidade e conexão com a natureza. O Inspira mergulhou nessas águas.

Foto: cortesia @vivianne_morcerf

Chegamos ao santuário pela manhã, por volta das 7h, acompanhados de uma turma de mochileiros curiosos, ansiosos por explorar a beleza daquele refúgio. O casal Ísis e Gabriel, nossos guias, conhecia a nascente e suas histórias como ninguém. Logo, fomos levados por um passado que se entrelaça com o presente: os Caetés, uma das tribos indígenas mais valentes da história, habitaram essa região. O eco das suas lendas ainda parece reverberar nas águas do Guaxuma.

Acesso à nascente do Guaxuma (Foto: Dayane Laet)

Gabriel, com sua flauta de bambu, logo se sentou às margens do rio e, com uma melodia autoral que parecia brotar das próprias águas, envolveu a todos em um clima de introspecção e encantamento. A música se espalhou pelo ar como uma trilha sonora de um conto de fadas, e todos nós, em silêncio, nos sintonizamos com aquele lugar mágico. Foi uma experiência inesquecível. Veja esse momento  aqui.

Foto: Dayane Laet

As águas da nascente, apesar de frescas, não são frias demais. Quem decide entrar, logo sente vontade de ficar – a sensação de pertencimento é quase instantânea. Nossa visita foi especial, já que chegamos cedo e pudemos desfrutar da paz do local antes da chegada das primeiras excursões. Quando a primeira turma chegou, por volta das 9h, já estávamos saindo, carregando o silêncio e a serenidade que o lugar nos ofereceu.

Foto: cortesia @jordane._

Deixar o santuário nos fez perceber o quanto ainda há para descobrir em Alagoas, um estado que, além de sua beleza natural, carrega uma história profundamente tocante – histórias que fazem qualquer lugar parecer um cenário de sonhos.

Caetés: Guerreiros do passado

Os Caetés foram um povo indígena tradicional da região de Coruripe e do litoral de Pernambuco. De origem tupi-guarani, ficaram conhecidos por sua resistência feroz contra a colonização portuguesa. Eram caçadores, pescadores e agricultores, com a mandioca como principal fonte de alimento, além de serem habilidosos canoeiros, o que lhes permitia navegar com facilidade pelos rios e mares.

Sua resistência à ocupação portuguesa foi uma das mais notáveis. Acusados injustamente de canibalismo, os Caetés se tornaram alvo de perseguições violentas que culminaram em um extermínio cruel, com os poucos sobreviventes sendo escravizados ou forçados a se integrar a outras tribos.

Pontal do Coruripe (Foto: Viagens e Caminhos)

Bispo Sardinha

Um dos episódios mais marcantes da história dos Caetés foi o suposto sacrifício do bispo Dom Pero Fernandes Sardinha, em 1556. Após um naufrágio, o bispo foi capturado pelos Caetés e, segundo os relatos da época, teria sido morto e devorado em um ritual – um acontecimento que, embora envolto em controvérsias, foi usado pelos colonizadores para justificar a perseguição implacável ao povo Caeté. A brutalidade dessa história foi responsável por apagar uma parte importante da cultura e das tradições dos Caetés.

Coruripe e o Ouricuri

Coruripe é um dos municípios de Alagoas que fazem sucesso por suas belas praias e a presença do artesanato tradicional, especialmente a palha de ouricuri, uma espécie de palmeira nativa do semiárido nordestino. Suas folhas são amplamente utilizadas no artesanato para a produção de trançados, bolsas, chapéus e esteiras. Seus frutos fornecem um óleo semelhante ao de coco, usado na alimentação e em produtos cosméticos. A planta é importante para comunidades rurais, tanto economicamente quanto na preservação da cultura ancestral.

@artesanatoouricuri

Informações importantes:

  • Para entrar na nascente é preciso pagar uma taxa de R15 (pix ou em espécie).
  • O local possui wi-fi.
  • Fomos com o pessoal da agência Na Travessia.
  • É bom levar algo para comer porque não há comércio por perto, mas lembre de recolher todo o lixo produzido durante a visita.

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