7 de junho de 2025

Brechós online: do desapego ao estilo com propósito

Você já parou para pensar que aquela roupa esquecida no seu armário pode se transformar em dinheiro ou no novo item favorito do guarda-roupa de outra pessoa? É exatamente essa a proposta dos brechós online, que ganham cada vez mais espaço como alternativa sustentável, estilosa e acessível para quem quer renovar o visual sem pesar no bolso e, principalmente, sem sobrecarregar o planeta.

De acordo com o relatório da ThredUp, uma das maiores plataformas de revenda de roupas usadas no mundo, o mercado global de vestuário de segunda mão está em expansão e deve atingir um valor de 350 bilhões de dólares até 2028, com um crescimento médio anual de 12%. No Brasil, os números também impressionam: dados do Sebrae mostram que, em 2023, havia mais de 118 mil brechós ativos no país, um aumento de quase 31% em apenas cinco anos.

Reprodução / Freepik

Em Alagoas, a tendência ganha força e personalidade própria. Redes sociais como Instagram, TikTok e Facebook viraram vitrines para perfis de desapego e brechós digitais que movimentam roupas, acessórios e até móveis. São iniciativas que começam no guarda-roupa pessoal e se transformam em pequenos negócios e, muitas vezes, em novos modos de ver a moda.

Um exemplo é o da estudante de Química Camila Ferreira Freitas, de 19 anos. Ela começou a frequentar brechós ainda na infância, em bazares da igreja da mãe. “Desde pequena eu ia com minha mãe escolher peças. Mas hoje o que mais me motiva é a textura e a modelagem das roupas. Eu gosto muito de peças mais antigas, dos anos 80, 90 e início dos 2000, e só encontro isso em brechós e bazares”, conta.

Com cerca de 70% do seu guarda-roupa vindo de peças garimpadas, Camila compartilha sua paixão nas redes sociais, principalmente no TikTok. “Gravo porque é algo que faz parte do meu dia a dia e da minha identidade. Amo moda sustentável. E acho importante mostrar que é possível se vestir bem sem gastar muito e sem recorrer ao fast fashion.”

Perfil do brechó online de Camila (Reprodução / TikTok)

A estudante conta, ainda, que as roupas com texturas diferentes são um dos pontos altos do brechó. “E tem também o preço, claro. Já achei um vestido da Farm por dois reais, com etiqueta. E a peça mais marcante foi uma clutch da Carolina Herrera que comprei por um real. Nem ia levar, mas minha mãe insistiu dizendo que eu podia precisar para um casamento. Só em casa percebi o achado que tinha feito.”

Além da economia, Camila destaca outro aspecto essencial da experiência: a conexão emocional com as peças. “Antes de garimpar, sempre monto uma pasta no Pinterest com ideias do que quero encontrar. Isso me dá um norte. Mas o principal é ir com tempo e olhar com carinho. Às vezes você nem dá bola na arara, mas, quando prova, a roupa encaixa perfeitamente. Garimpar é um processo mágico”, diz.

Fotos de Camila com looks garimpados (Reprodução / Redes Sociais)

Essa dimensão afetiva do desapego também se revela em muitas outras histórias. É o caso de Maisa, que criou o perfil @brecho_4marias no Instagram para escoar roupas dela e de familiares, e viu a ideia se transformar em um negócio com mais de 4 mil seguidores. Perfis como o dela se multiplicam nas redes: muitos começam de forma simples e, hoje, organizam até bazares mensais, como o @bazar.chique, que reúne lojistas e pessoas interessadas em desapegar de peças, e já conta com mais de 35 mil seguidores.

Há também iniciativas como a de Cláudia, do @brechojaragua_, que encontrou no desapego uma oportunidade para dar novo destino a tudo o que não serve mais para ela. Ou ainda o @eucabide, criado por Maria, que compartilha roupas, livros, discos e acessórios seminovos com quem valoriza objetos com história. São inúmeros os perfis, e muitas as trajetórias, que mostram como o desapego pode inspirar um novo olhar sobre consumo, estilo e propósito.

Sebrae Alagoas apoia o consumo responsável

O sucesso dos brechós está intimamente ligado às mudanças no comportamento do consumidor. A inflação no setor de moda, a busca por estilo com propósito e o aumento da consciência ambiental impulsionam esse novo mercado. “O brechó deixou de ser sinônimo de roupa velha. Hoje, é símbolo de originalidade, personalidade e consciência”, diz Ana Carolina Ávila Mendonça, analista de relacionamento do Sebrae Alagoas.

Segundo a especialista, o modelo de negócio tem se destacado por seus custos operacionais reduzidos, o que permite oferecer produtos de qualidade — muitas vezes de marcas consagradas — com preços acessíveis. “Além disso, o brechó contribui diretamente com a moda circular. É uma excelente forma de ampliar o acesso à moda sem comprometer o futuro do planeta”, afirma.

Reprodução / Freepik

O caminho das peças

Para quem deseja transformar o desapego em empreendimento, alguns pontos são fundamentais. O primeiro passo é encarar a ideia como um negócio. Ter um plano estruturado ajuda a entender o público, montar um mix de produtos atrativo e planejar ações de marketing e vendas. “Também é importante construir uma rede de fornecedores, que podem vender ou doar peças, ampliando a variedade da loja. Plataformas como Enjoei, Repassa (Renner) e Troc são opções populares, além dos marketplaces e redes sociais, como Instagram e TikTok, que têm se mostrado eficazes para alcançar um público jovem e engajado”, pontua a especialista.

Outro ponto importante é a formalização. Ainda conforme as dicas de Ana Carolina, tornar-se Microempreendedor Individual (MEI) garante acesso a benefícios como emissão de nota fiscal, previdência social, crédito com melhores condições e participação em feiras e eventos. Além disso, a formalização transmite mais confiança aos clientes e abre portas para parcerias estratégicas.

“Mais do que uma tendência de mercado, os brechós revelam um novo jeito de consumir. Comprar com consciência, vender com propósito e se vestir com identidade. Ao dar uma segunda vida a uma peça, a gente estende o ciclo da moda, movimenta a economia local e transforma escolhas cotidianas em gestos de impacto”, conclui a analista do Sebrae.

E, como diria Camila, com brilho nos olhos e sorriso no rosto: “A moda pode, e deve, ser bonita, acessível e consciente. E tudo isso você encontra num bom garimpo.”  Confira um dos vídeos de garimpo de Camila:

 

No fim das contas, garimpar em brechós é mais do que encontrar roupas: é descobrir histórias, reinventar estilos e vestir escolhas que fazem sentido. Em cada peça que muda de mãos, um gesto silencioso de cuidado com o planeta — e com a gente também.

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