Precisamos falar de puerpério, solidão e depressão pós-parto

Nos últimos dias, o tema depressão pós-parto ganhou as redes sociais após a prisão de uma mulher acusada de matar a filha de apenas 15 dias por asfixia. Uma realidade dura, complexa e muito mais comum do que se imagina — e que precisa ser discutida com responsabilidade, empatia e urgência.

A maternidade é celebrada como um momento mágico, mas poucas vezes se fala sobre o lado invisível dessa experiência: o puerpério, a solidão e a depressão pós-parto. Toda mãe é, em algum nível, solo — seja por algumas horas, dias ou, em muitos casos, em tempo integral.

Após o nascimento de um filho, a mulher passa por mudanças físicas, emocionais e psicológicas intensas. O puerpério é um período marcado pelo esgotamento físico e mental, agravado pela privação de sono, pela insegurança diante do novo e, muitas vezes, pela falta de apoio emocional ou financeiro.

 

Essa é a realidade que muitas mulheres enfrentam, mas raramente encontram espaço para compartilhar. Enquanto tentam aprender a amamentar, ainda se adaptando ao novo corpo e à nova rotina, recebem críticas sobre o corpo, o jeito de segurar e até no modo de cuidar. Muitos palpites, mas quase nunca um colo ou um ato de afeto.

A depressão pós-parto atinge cerca de 25% das mulheres brasileiras, segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mas ainda é cercada de preconceito e desconhecimento. É uma condição séria, que pode se manifestar logo nas primeiras semanas após o parto e que exige acolhimento, não julgamento.

Depressão pós-parto atinge cerca de 25% das brasileiras (Foro / Reprodução Freepik)

Com noites inteiras sem dormir, o corpo pede descanso e a mente implora por silêncio. A exaustão física se soma ao cansaço emocional e, em meio a tanto amor e dedicação, uma tristeza profunda pode se instalar. Muitas mulheres não conseguem nomear esse sentimento de imediato — mas, com o tempo, reconhecem: era depressão pós-parto.

O amor pelo filho é real, mas a dor também. O puerpério é uma travessia solitária, mesmo para quem tem companhia. Mesmo cercada de pessoas queridas, a solidão pode ser profunda. Por isso, falar sobre isso é urgente. Não para assustar, mas para que nenhuma mulher ache que está errada ou fraca por se sentir assim.

Toda mãe é solo. E ser solo é ser abrigo, alimento e fortaleza — mesmo quando, por dentro, tudo parece ruir.

Apesar de tudo, há vida depois do puerpério. Há força onde se achava que não existia. Há cura, mesmo quando tudo parece desmoronar. E, acima de tudo, há amor — pelos filhos e por si mesma, nessa mulher que também renasce e aprende a se reconstruir.

Falar, pedir ajuda e aceitar apoio são passos difíceis, mas transformadores. Nenhuma mãe deveria passar por isso sozinha. E nenhuma dor precisa ser eterna.

Diante dessa realidade, é fundamental que o Ministério da Saúde, em parceria com os governos estaduais e municipais, implemente políticas públicas de atenção à saúde mental materna. Isso inclui a criação de centros de acolhimento psicológico voltados exclusivamente ao puerpério, com equipes multidisciplinares e atendimento gratuito, contínuo e humanizado.

Além disso, é necessário ampliar as campanhas de informação e conscientização, especialmente nas unidades de saúde básicas e hospitais, para que mulheres, famílias e profissionais estejam preparados para identificar sinais da depressão pós-parto e agir com acolhimento, e não julgamento.

E, se você é mãe e está se sentindo assim, saiba: você não está só. E, sim, vai passar.

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