Sua casa combina com você?
Hoje quero te convidar a dar um passeio pelo tempo: eu e você nessa estrada chamada Arquitetura. Sei que estamos em 2025, mas este convite é para que você se ache nessa linha do tempo e busque um encontro com o estilo arquitetônico que verdadeiramente abrace a sua alma.
Deixe-me explicar melhor: há alguns anos venho concebendo projetos para clientes — desde casas do zero até reformas de pequenos banheiros. Mas eu, também cliente de mim mesma, a cada retoque que faço na minha casa, tento não falhar na busca de reformar os espaços onde habito e deixá-los com uma cara que seja realmente a minha.
Por isso, venho me perguntando e, hoje, pergunto a você também: qual é a sua cara na arquitetura?
Quando criança, lá pelos anos de 1980, sempre tive facilidade para as artes. Costumava desenhar plantas baixas das casas onde, um dia, eu gostaria de morar. Claro, quando somos mais novos, moramos nas casas que nossos pais escolhem, e vamos absorvendo delas — e das casas das ruas ao redor — aquilo que, sem saber, é estilo arquitetônico.

Na minha época, havia geladeiras azuis, pisos cimentícios vermelhos, revestimentos hidráulicos estampados, paredes cor-de-rosa e enormes móveis de madeira maciça e escura. E se eu fosse na casa dos meus avós, era tudo igual. Não podia faltar a almofada de rendinha, o filtro de barro e o bolo quentinho na mesa. Quem lembra? A “casa de vó” sempre foi inesquecível!
Nos anos 1990, a indústria moveleira cresceu no Brasil e trouxe o hoje tão conhecido MDF — um painel de fibra de média densidade — permitindo que os móveis ganhassem novas formas e cores, diminuindo o uso da madeira natural e preservando a natureza. Esse movimento ampliou também o trabalho dos profissionais da arquitetura, permitindo projetos cada vez mais inovadores, transformando não só nossos ambientes, mas as edificações como um todo.
O tempo passou e a arquitetura seguiu mudando. Mas será que somos obrigados a mudar junto com ela e a absorver, sem questionar, os estilos de casas e móveis que as tendências propõem?
Chegamos em 2020. O trabalho e a correria do dia a dia nos obrigavam a ficar cada vez menos em casa. Ela se tornava apenas um lugar para guardar nossas coisas e dormir. Até que a pandemia nos obrigou a entrar. E, dentro de casa, passamos a olhar com mais carinho para os espaços: trouxemos para dentro a natureza, os materiais naturais, os tecidos mais confortáveis, a madeira — ou o que nos lembrava a madeira.

Quebramos paredes, conectamos espaços, levamos as cozinhas para as varandas e criamos espaços gourmets. Tudo em busca de conforto e aconchego. Afinal, ter uma casa seria isso, não? Um abrigo contra o caos externo. A casa finalmente se tornou lar.
A internet nos oferece infinitas referências: tendências, tintas do ano, novos revestimentos, móveis da moda…, mas tem um termo que uso — e que até se tornou pejorativo para mim —: a “casa de Pinterest”. Isso porque, ao tentarmos seguir o que está em alta e sem saber harmonizar as referências, acabamos apenas imitando o que vemos nas redes. As casas dos influenciadores viraram modelo, com pisos polidos e excesso de luz branca. E, muitas vezes, erramos ao deixar de nos perguntar: qual é a nossa cara na arquitetura? O que nos abraça de verdade? O que condiz com a nossa rotina? O que toca a nossa alma e nos faz felizes?

E isso não tem a ver com ter rios de dinheiro. Às vezes, o simples se encaixa em nós. Outras vezes, até o porcelanato polido, mesmo não sendo o do Pinterest, pode ser perfeito. O importante é que nos caiba.
Tenho percebido algo curioso: parece que estamos girando no tempo e voltando às raízes. Estamos redescobrindo o estilo “casa de vó”. A nostalgia nos salva da dureza dos dias atuais e nos remete a tempos bons. Mas tudo bem se esse não for o seu caso.
O que importa mesmo, em arquitetura, é que você esteja satisfeito com o que lhe rodeia. Que perceba que o seu espaço foi pensado com carinho, para você — e não apenas para visitas que quase nunca aparecem naquela sala cheia de cadeiras vazias.
Quem sabe aquele quadro esquecido num canto ou aquela poltrona de estimação não são o pontapé inicial para uma paleta de cores, móveis e objetos que farão da sua casa uma extensão ideal de você?
Mas isso é assunto para uma outra viagem. E, se você quiser vir comigo de novo, me encontre em breve aqui no Inspira.
Até!