O amor é para quem tem sorte

“Neste mundo de tantos anos, entre tantos outros, que sorte a nossa, hein? Entre tantas paixões, esse encontro…nós dois, esse amor”. Presa no trânsito da Fernandes Lima fiquei refletindo enquanto ouvia essa música (uma das minhas preferidas da Vanessa da Mata), sobre encontros.

Enquanto o semáforo fechava, ajustei o ar-condicionado,  na tentativa inútil esfriar os pensamentos. Foi quando, do nada, compreendi: o amor é para quem tem sorte. É um artigo de luxo. Tão raro que, quando acontece, é impossível não perceber — ainda que disfarçado de acaso.

Conheço pessoas que encontraram o seu bem-querer no jardim de infância. Outras, correndo descabeladas na praia às seis da manhã, se trombaram. Algumas começaram no ensino médio, foram separadas pelas circunstâncias e voltaram a se enlaçar já idosos. Na feira, no parque de diversões, amigos em comum, o(a) melhor amigo(a) do irmão… ou o(a) seu próprio melhor amigo(a). Não importa onde ou como. O que importa é que, de fato, aconteceu.

E então tudo faz sentido, todo sofrimento anterior parece ter valido a pena. A dúvida e o medo de perder não existem. Hormônios de prazer e alegria pipocam tons rosados nas maçãs do rosto. Já ouvi alguém dizer que “só” tinha uns 30 anos para viver ao lado de quem ama. Que era muito pouco.

E deve ser mesmo.

Se você tem alguém com quem pode ser você mesmo(a), caminhar de mãos dadas, contemplar um pôr do sol, rir de bobagens até doer a barriga, compartilhar um macarrão enquanto fofoca e, principalmente, admirar… valorize.

Ver o próprio coração refletido nos olhos do outro — ainda que com rugas — é para quem tem coragem. E uma boa dose de sorte.

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